segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Policias interrogam-se

NÓS, POLÍCIAS, QUEREMOS SABER COMO AGIR.

Queremos que nos digam o que esperam que façamos.

Queremos que nos digam como querem que seja executada a nossa acção.

Até agora corremos por nossa conta e risco.•
Sacrificamos a vida pessoal e familiar, sacrificamos o nosso orçamento familiar para adquirir meios que não nos facultam e agimos de acordo com a nossa avaliação dos factos, com o único objectivo de manter a Ordem Pública, e a Autoridade do Estado.

Quando as coisas correm mal, descobrimos que não era exactamente o que a sociedade pretendia e somos punidos. Se não agimos somos acusados de complacência.

Em princípio, o Polícia está investido de Autoridade do Estado, mas em quê que se traduz essa autoridade? Como pode fazer valê-la? Como se pode mantê-la inviolável?

Fisicamente, qualquer Polícia pode ser vencido pelo cidadão. Ainda não há "Super-Homens", mas os Polícias também não podem usar a violência física. Podem apenas defender-se da violência contra si.

Alguém acredita que basta uma ordem verbal para fazer cessar um crime, por menor que ele seja?•
Sendo desrespeitada a ordem verbal, qual o patamar seguinte?

Ignorar o crime ou manter a Autoridade Pública?•
Reportemo-nos ao caso do militar da GNR condenado a 14 anos de prisão por ter disparado contra um jovem de 17 anos que lhe havia roubado um fio de ouro, causando-lhe a morte.

Face à evolução da sociedade, face à queda de valores e da ordem social, este caso merece a nossa reflexão, merece por isso uma análise profunda.•
Aqui apenas serão lançados os dados.

O Polícia em causa foi punido, assim o ditou a justiça. Ficamos a saber que aquela actuação foi severamente condenada, foi considerada totalmente inaceitável.
No entanto, alguém deveria dizer como deveria ele ter agido, para amanhã, os outros Polícias, saberem como actuar!

O cenário que vos coloco é o seguinte:

O Polícia identifica-se e oferece resistência.
Se os assaltantes prosseguirem com o roubo, o Polícia, fisicamente em desvantagem, permite que lhe levem o fio. Posteriormente, pede apoio policial para tentar identificá-los, com ou sem sucesso dada a enorme multidão e enorme área urbana. Não se livra da vergonha pessoal, social e profissional de, sendo Polícia, ter-se deixado roubar.
No dia seguinte esse mesmo Polícia, já fardado, exerce a sua actividade na zona e passa a ser vítima de chacota social. Como pode proteger um cidadão se ele próprio se deixou assaltar?•
Mesmo que fosse possível identificar os indivíduos, o Polícia não os levaria à justiça, por uma série de razões: A Justiça é excessivamente cara, perante o seu rendimento, e não teria apoio institucional. A Justiça é lenta e seria ineficaz pois a sua Autoridade como Polícia já estava ferida. Restar-lhe-ia conformar-se e eventualmente mudar de zona. Como se sentiriam os assaltantes se o Polícia tivesse sido assaltado sem consequências? Confiantes para tentar um patamar mais acima? Qual? Um Qualquer!

Agora, digam-nos como reagiremos se, estando sozinhos, virmos um cidadão a ser roubado ou agredido por alguém fisicamente superior a nós? Deixamo-lo agir e chamamos reforços para tentar identificá-lo a posteriori? É que só dizer que se está investido da Autoridade do Estado não chega para fazer cessar a agressão. O que poderá o agressor temer quando vê um Polícia? Nada!

Mas para estas questões há duas versões:
- Se quem responde for a vítima, todos os meios são aceitáveis.
- Caso seja pai, familiar do criminoso, todos os meios são excessivos.•
No meio destas análises está o Polícia que tem de tomar uma decisão sozinho!
O que acontece ao Polícia se "não viu" o cidadão a ser vítima de um crime?
Nada. O que acontece se reagir e essa reacção foi desproporcionada?
Severamente condenado!

Então em que ficamos?
Que querem de nós que ainda não somos Super-Homens?

Quem rouba um fio a um Polícia também pode roubar a arma. Se amanhã um grupo de delinquentes abordar um Polícia e lhe exigir a arma, como deve reagir?

Fisicamente inferiorizado, usa a arma para a manter na sua posse (na posse do Estado) ou entrega-a para não por em risco a vida dos delinquentes? Como agirá?

Se o Polícia usar a arma e atingir alguém, tem destino certo na cadeia.
Se a entregar ainda que resista sem pôr a sua vida em perigo, pode ser expulso pela Instituição. Mas a arma roubada pode ser usada contra cidadãos comuns, qualquer um!
De quem será a responsabilidade?

Vejamos ainda o seguinte:

- Há doentes que entram com próprio pé num hospital e saem no estado vegetativo e outros já nem saem. Verifica-se que foi erro médico mas ninguém vai para a cadeia.

- Há juízes que condenam inocentes e outros que libertam criminosos que voltam a cometer crimes, muitos deles violentos. Nenhum Juiz vai para a cadeia porque não se pode beliscar a Autoridade do Estado. É que caso acontece-se, os Juízes passariam estar condicionados no momento de decidir.•
É exactamente o que acontece com os Polícias. Estão extremamente condicionados no momento de decidir porque o risco da cadeia é real e não há desculpabilização para um erro policial, ainda que seja sobre delinquentes, ainda que seja para repelir um crime!

Precisamos que nos digam como deveremos agir!

Não podemos manter a Autoridade do Estado por nossa conta e risco! Alguém tem que assumir essa responsabilidade: Agimos e até que ponto, ou simplesmente não agimos?
É preciso ter presente que, a voz da Polícia, apenas é respeitada pelas pessoas de bem, mas com essas pessoas não resultam problemas. Queremos saber como agir perante aqueles que não obedecem e até desafiam a Autoridade do Estado?•
Alguém dirá (levem-nos à justiça)!
Mas é exactamente isso que nos deve ser explicado. Como levamos alguém à justiça contra a sua vontade, quando resiste e é fisicamente forte? Como fazemos cessar uma agressão contra nós ou contra um cidadão, se fisicamente estivermos em desvantagem?
Deixamos agredir e identificamo-los depois? Deixamos de ser Polícias e passamos a ser identificadores de criminosos?

No passado, um delinquente era severamente punido pela moral social e isso, em muitos casos, era suficiente. Hoje tal não acontece.

Para uma melhor qualidade da actuação policial, exige-se que os cidadãos digam o que esperam de nós, como querem que o Polícia mantenha a Autoridade do Estado, ainda que seja contra si, mas para o bem comum. O risco é cada vez maior e tal verifica-se no aumento da insegurança.

O ridículo já aconteceu: Um cidadão fugiu para uma esquadra para se proteger e foi agredido lá dentro por quem o perseguia.•
Alguém perguntou:
- Como é possível tal acontecer?

Acontece porque o Polícia não pode fazer nada. Essa é a realidade que ninguém quer ver! Amanhã, quando casos ridículos se banalizarem, poderá ser tarde demais! Daqui a tomarem de assalto a esquadra... pouco falta! Até por brincadeira, mas é possível.

Vale a pena pensar nisto!
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