Marcha do Vapor Suplemento

A Ilha Sonhada

É verdade. Sonhei uma noite com a “minha” Ilha e nunca mais a esqueci. Não me perguntem onde fica, que não sei responder. Não sei se fica longe ou se fica perto daqui. Também não me interessa a distância a que ela se encontra, pois para mim ela está aqui, bem pertinho de mim, ou melhor dentro de mim, aqui muito bem situada no meu pequeno coração. Podem até gozar comigo, mas assim, tenho-a bem guardada só para mim. Sempre que a quero visitar, só tenho que fechar os olhos com muita força, muita força…e dali a nada, estou na minha Ilha.
Não imaginam como é bela, cheirosa, colorida…
Os seus habitantes são super-simpáticos e educados. São números. Sim, números. Porquê tanta admiração? Os números são bons companheiros, eu dou-me bem com eles, e até chego a considerá-los meus amigos. Porquê? Ora, são meus companheiros desde que me conheço. Cá em casa, a mamã e o pai, desde cedo que me ensinaram a contar e a identificar os números (ou melhor, os algarismos), depois no Jardim de Infância a Glória, a minha educadora, também me foi incutindo esse bichinho, a que mais tarde comecei a chamar Matemática. Podem pensar que sou tolo, talvez, mas que posso fazer, gosto de trabalhar com os números, e no dia que os encontrei na minha Ilha…bem, não imaginam a alegria que senti.
Assim que consegui pisar a terra firme da minha Ilha, fui logo recebido pelo Cinco. Deu-me as boas vindas dando-me cinco (!) berlindes. Ora eu que adoro jogar com berlindes…
Ainda não tinha acabado de admirar os meus berlindes maravilhosos, já o Dois vinha ter comigo. Perguntou-me o meu nome e a minha idade. Disse-lhe que o meu nome é Tomás e que tinha oito anos. Pareceu-me que tinha gostado de mim, pois levou-me logo para a Casa da Senhora Tabuada, para que também ela me conhecesse. Fiquei a saber que só pode entrar na “minha” Ilha, aqueles meninos ou meninas que tiverem uma boa relação com a Senhora Tabuada, pois quem manda nos números todos é ela. O que ela disser é lei, e se é lei…
Encontrei lá também, os Ordinais. Estavam a fazer uma corrida de sacos. Foi engraçado, porque em primeiro chegou o Segundo, em segundo chegou o Quinto, em terceiro chegou o Oitavo, e às duas por três, desataram todos a rir. Que trapalhada! Por ouvir tanta algazarra, apareceram as Romanas. Que vaidosas! Têm a mania que são diferentes, que se há-de fazer…Pensam que valem mais que os outros só porque são letras. Coitadas, são as habitantes da minha ilha de que menos gosto.
Quem foi muito simpática comigo, foi a Geometria. Apresentou-me os Ângulos, os Sólidos Geométricos, as Figuras Geométricas… Eram todos tão coloridos, cada qual tinha a sua cor.
Nesse mesmo dia, havia na minha Ilha uma grande festa - Festa de S. Pitágoras. Nunca tinha ouvido falar em tal santo. Na minha terra costumamos comemorar o S. Martinho, mas S. Pitágoras…
Aceitei o convite que o Sete me fez e fiquei para a festa. Imaginem que a Senhora Tabuada até me nomeou Convidado de Honra, o que desde logo me orgulhou bastante. A festa foi linda e não faltou ninguém à chamada da Senhora Tabuada. Olhava para um lado via os números a dançar, olhava para o outro e cantavam as Paralelas ao desafio com as Perpendiculares e, imaginem, até eu cantei a tabuada.
O dia já estava a ser longo demais. Estava a começar a ficar cansado. Afinal lidar com a Matemática um dia inteiro, não era tarefa fácil, por muito que se goste dela.
Fui ter com a Senhora Tabuada para lhe agradecer o que naquele dia tinha feito por mim. Prometi voltar em breve e levar comigo um ou dois amigos. Despedi-me dos Números, dos Sólidos, das Figuras Geométricas, dos Ângul…
-Acorda filho, são horas! Olha que hoje é dia de teste de Matemática, e não quero que vás para a escola sem fazermos uma breve revisão da matéria. Bem sabes que a Matemática não é para brincadeiras…
Como a mamã estava enganada. A Matemática é mesmo para brincadeiras, para nos divertir, para aprender a compreender melhor aquilo que nos rodeia.
Quando for grande, quero ser Cientista, e o meu laboratório, vai ser lá. Sim lá, na minha Ilha, na Ilha da Ciência. Afinal, ela é a minha Ilha Sonhada!

Tomás Cruz